quinta-feira, setembro 29, 2005

Quanto a Incondicionalidade...

O que determina um amor incondicional? Seria não ter padrão, lama e céu?
Nada.
Apenas é incondicional.
Eu devia saber definir isso muito bem, afinal, é o que sempre busquei.
Mas não sei.
Porque a incondicionalidade, conforme diria o Alan, determina a não condição. E como aceitar não condições, quando somos passíveis de errar nossos amores e desamores, de doar e não ser digno de um tratamento a altura.
Não, não falo de reciprocidade. Isso é hipócrita demais. Dar pensando no que vai receber? Por favor... seria o cúmulo selecionar sentimentos. Determinar doses de sentimentos doáveis a cada um é uma idéia que surgiu nessa "nova juventude", onde tudo é calculado e o American Way of Life impera.
Determino como incondicional aquilo que não vai contra a minha alma. Afinal, preciso de um padrão para determinar o que (ou quem) fica na minha vida, bem como o que deixo a vida levar embora.
Deixe-me fazer explicar:
Incondicional até agredir a minha moralidade, que qualquer pessoa que tenha meu amor e meu sentimento sabe qual é. Há de se ter esse limite, e tendo limites deixa de ser incondicional.
Na verdade, então, o único amor incondicional é o nosso por nós mesmos.
Mas isso, pra mim, é deplorável!
Como assim? E os amores de outrora, onde doava-se a vida pelo ser amado? Onde está a beleza romântica? Século XVIII???
Creio que tudo tem limite. Se alguém te pisa, tem duas opções: ou segue como se nada houvesse, ou pede desculpas.
A incondicionalidade acaba quando faltam as desculpas.
Matamos-na no momento em que se perde o respeito.

... E se ela morre, é porque o respeito não é recíproco ou porque amamos mais (ou menos), por mais que seja também indetermionável aquilo que é abstrato...

domingo, setembro 25, 2005

Como é fácil idealizar o mundo...
idealizar qualquer coisa, na verdade...
Criar tantas espectativas, que podem ou não ser verdades (ainda), mas idealizá-las, da forma que mais conv';em.
Triste, eu diria.
Triste porque é fácil e lastimável a forma como estruturas firmes caem, porque, na verdade, nunca foram certas: a viga estava inclinada, o pilar estava torto.

Mas idealizar faz parte do ser humano; ou do meu ser (cada dia acredito perder mais da minha humanidade), e qualquer estrutura que se cria num terreno não conhecido pode ruir.
Creio não ser mais tão criança a ponto de querer plantar árvores no lodo, ou criar castelos encantados sobre o pântano, mas ainda sou infantil a ponto de acreditar nas pessoas; de achar que sentimentos podem ser eternos ou encantados, a ponto de valerem ser guardados num castelo qualquer.

Estaria eu errada?
Possivelmente.

É incrível, mas o tempo vai passando, eu vou ficando mais velha, e cada vez mais acumulo ideais que aos 8 anos acreditaria serem medíocres. Talvez seja verdade aquela teoria de que mulheres atingem sua maturidade emocional na infância, e depois só vão regredindo. Talvez eu queira estar me encaixando em alguma estatística furada, apenas para fazer de conta que pertenço a alguma realidade.

Minha vida é um talvez.

O que é bom, dá espectativas! Mas ainda dá a possibilidade de lidar com o lúdico, e quando o lúdico e o real se encontram, a saída é complexa.

Acho que eu espero muita verdade de onde não vão vir; muita direção de equívocos. Talvez por eu estar tentando questionar o mundo e a mim mesma, tentar encontrar a solução da minha alma de uma forma esclarecedora, ao menos, eu espero isso dos outros.

Ou então eu espero isso desde os 8 anos, mas nunca tive a coragem de dar o primeiro passo.

O pântano é cobrível: castelos podem ser construídos ali em cima e não afundarem; talvez esteja na hora de aprender alguma coisa de engenharia, porque de verdades e mentiras o mundo está cheio, e o talvez mata muito mais que o sim e o não.

quarta-feira, setembro 14, 2005

Ela entrou na lotação tarde da noite. Chovia.
"Merda", pensou ela. "Meu lugar preferido está tomado".
Ela sempre procurava pegar o mesmo lugar desde que superou a fese extravagante de sua adolescência. Não queria mais reencontrar seu nome, ou vestígios de seu passado que ela tanto omitia dela mesma, mas não queria perder o lado destoante que a fazia percorrer toda a lotação enlameada, com sua sombrinha molhando assentos, para chegar ao fundo. "Onde o ar condicionado não me atinge". Ela pensava assim mesmo nos dias de mais calor. "De que adiantaria uma temperatura suposta, mas irreal?".
Ela sabia as verdades. a irrealidade das verdades que complementam tudo o que a cercava.

Mas ela seguiu. "Porra!" e sentou-se bem ao meio de uma lotação, no único assento em que não teria compania. Não queria compania; ninguém a entenderia. nem no meio daquela lotação, que era uma carreira a frente da sua fase superficial, e duas a frente de sua ânsia.

"Eu sou a única mulher aqui. Essa lotação passa por todos os puteiros dessa cidade. Tô fudida, é hoje que sou assaltada!" e a lotação entra em tal rua peculiar. Tudo tranquilo, apenas as prostitutas, que mais assemelhavam-se a dançarinas do Tchan imitando paquitas: figuras obscuras, oxigenadas, vestidas de branco, sainda das esquinas mais imundas daquele brejo. A lotação para. "Só o que me faltava: um cara travado de pó! Pelo menos ele é bonitinho... por que os podres são sempre os mais bonitinhos? E por que diabos ele está usando uma calça de couro vermelha??? Pelo menos é vermelho escuro... só me faltava... mais um bonitinho, cheirador e viado nesse fim de mundo a essa hora"

O percurso continuava. As luzes da lotação estavam imundas, amarelas. Pareciam ter todo o tipo de inseto morto dentro. Possivelmente tivessem. "E eu sou a única guria por aqui..." Ela sempre tivera todo o orgulho de ser mulher, mas não no meio daqueles porcos que babavam as cadeiras e a encaravam como se ela fosse um cordeiro. Novamente ela tinha de se fazer de monstro, pois o simples fato de o olho cintilar de uma maneira diferente poderia determinar um papo ou uma atitude alheia muito desconfortável e totalmente indesejada. "Porcos. Por que têm de ser assim? É tarde, vão babar em seus acentos! Vão descer nesses puteiros!!!!"

Muda-se a rua. O caminho lhe é estranho. "Odeio estar perdida. E se estiverem me raptando? Hahahaha, o pobre motorista montando uma granja! Mas devo estar perto... o caminho pelo menos parece fazer sentido... " E entra uma outra menina na lotação.

Pouco a pouco os homens saem. Ficam ela, a outra menina e um senhor, dormindo, que certamente ja perdeu a sua parada. Ela estava meio encolhida, ainda, evitando os olhares alheios e evitando seu próprio olhar no vidro: a chuva parecia mais divertida, e descobrir aonde estava era necessário.

Ela se localiza. Com firmeza. Crava seu guarda-chuva no chão. o senhor acorda com o baque estranho, a menina da frente (logo a frente dela) nem a tinha notado, dá um pulo. Ela se levanta, audazmente, com um orgulho desnecessário. Ela não tinha feito nada.

Põe a mão no bolso. "Meu bolso está bem quente; eu devia poder manter minha mão aqui, mas tenho que pagar esse cara que quase arruinou a minha vida!" Ela paga.
Põe a mão novamente no bolso.
Encosta-a no rosto.

" Mãe, por favor, vem me pegar! Ta tão frio... "

sexta-feira, setembro 09, 2005


Anõe que somem, anões que aparecem e fogem, anões que morrem, anões que buscam tragédias...

... e a Branca de Neve entrou em sono profundo, porque ela sempre foi muito glutona, comeu uma maçã. A ironia, talvez, é que ela nunca comeria uma maçã do amor, creio eu, porque daí sim, ela estaria, nesse meio tempo, construindo um castelo para se esconder dentro, e nunca morar. Ou melhor: uma fortaleza.

Como seria essa fortaleza?
Teria uma masmorra, é óbvio, porque todo herói se destinaria até lá para regatá-la, mas a fortaleza é tão rica e adornada, tudo brilha tanto e é tão encantado, que certamente o fosso que dá para o porão enlameado passaria reto.

Mas ela não estaria ali por fazer parte daquele meio, nem por não querer ser resgatada, mas apenas porque bravos seriam audazes de captas uma respiração baixa e ofegante de desespero???

Mas de que adianta pensar em hipóteses?
Ela dorme.
Um sonho de queda, mas não fatal.
Queda de doendes e fadas.
Mas todos de papelão.

Ela não tem medo, e nunca teve. Ela nunca soube o que é temer.
Talvez seja a hora.
Talvez seja a hora dela.